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Em uma regi\u00e3o muito pobre da cidade do Rio de Janeiro, na qual a guerra entre traficantes apavora milhares de moradores, Felipe Rocha, 20, faz a diferen\u00e7a. Com dedica\u00e7\u00e3o e empatia extrema a jovens que, no lugar de acesso \u00e0 cultura, recebem a influ\u00eancia di\u00e1ria do crime, ele decidiu h\u00e1 tr\u00eas anos ajudar a reduzir as barreiras que separam a rotina de quem mora na comunidade das oportunidades que a vida pode oferecer.<\/p>
Com essa miss\u00e3o, Felipe conduz a Oficina Brincarte, projeto que j\u00e1 atendeu centenas de jovens do Complexo da Pedreira e da favela do Chapad\u00e3o, entre Costa Barros e Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele tamb\u00e9m coordena o Me Segue, projeto que mapeia e revitaliza \u00e1reas da comunidade para atividades culturais. O idealismo e resili\u00eancia diante das adversidades s\u00e3o dois dos principais tra\u00e7os de Felipe. \"Procuro mostrar que posso ser um exemplo e que existem outros caminhos na vida\", afirma.<\/p>
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Ca\u00e7ula de dez filhos, todos criados pela m\u00e3e, Ana L\u00facia, Felipe teve oportunidades que a maioria de seus irm\u00e3os n\u00e3o puderam experimentar. Na fam\u00edlia, \u00e9 o \u00fanico a cursar universidade (est\u00e1 no segundo per\u00edodo de Publicidade e Propaganda na Universidade Est\u00e1cio de S\u00e1) e desde crian\u00e7a foi o mais incentivado a estudar. \"Apenas uma irm\u00e3 chegou a cursar faculdade, mas trancou. Outros tr\u00eas irm\u00e3os ainda conseguiram concluir o ensino m\u00e9dio\", disse.
Enquanto os irm\u00e3os catavam latas e recicl\u00e1veis e buscavam restos de alimentos no entorno da Ceasa, no bairro do Iraj\u00e1, Felipe podia se dedicar aos estudos. \"Somos filhos de pais ausentes e a figura paterna que tive foi meu irm\u00e3o, Bruno, que hoje tem 27 anos. Ele me mostrou que somos capazes de lutar pelo que queremos. Que somos favelados, mas temos capacidade de nos transformar. Meu irm\u00e3o lutou muito e me proporcionou oportunidades que ele n\u00e3o teve\", afirma.<\/p>
Criado em uma \u00e1rea bastante carente, Felipe teve aos oito anos de idade um encontro que mudou sua vida. Ao fazer parte de uma escolinha de futebol, entrou em um projeto da ONG Vis\u00e3o Restaurar e conheceu Ant\u00f4nio Parras, presidente da entidade. \"Eu morava em uma rua que todos chamavam de Fim de Mundo, e o Ant\u00f4nio estava lutando para recuperar um campinho que estava abandonado. Logo comecei a participar dos projetos coordenados por ele, que se tornou, ao lado do meu irm\u00e3o, uma outra refer\u00eancia\", afirma.<\/p>
Nesta \u00e9poca, a Oficina Brincarte dava os seus primeiros passos. Tocada por uma assistente social volunt\u00e1ria, a iniciativa buscava por meio de brincadeiras e gincanas despertar nas crian\u00e7as a consci\u00eancia sobre os desafios e problemas enfrentados na comunidade.<\/p>
Em 2016, a respons\u00e1vel pela Brincarte afastou-se da ONG. E, aos 17, Felipe passou a coordenar os trabalhos. Apesar da pouca idade, a vontade de ajudar os jovens de sua comunidade falou mais alto e, com muita garra, ele mergulhou na fun\u00e7\u00e3o. \"N\u00e3o me dei por vencido facilmente. Quando voc\u00ea entra numa ONG e v\u00ea o sorriso de uma pessoa com necessidade, voc\u00ea se empodera cada vez mais para fazer o seu papel dentro da sociedade\", afirma.<\/p>
Com oito meses de dura\u00e7\u00e3o e atividades \u00e0s quartas-feiras e s\u00e1bados, a oficina atende a dezenas de crian\u00e7as e jovens, entre 8 e 13 anos, das comunidades da Pedreira e Chapad\u00e3o. Por meio de atividades colaborativas, as dificuldades da vida s\u00e3o apresentadas, e as crian\u00e7as s\u00e3o incentivadas a enfrent\u00e1-las e super\u00e1-las, com o desenvolvimento do pensamento cr\u00edtico.<\/p>
Uma das principais brincadeiras \u00e9 a \"teia de aranha\", em que 300 metros de barbante s\u00e3o entrela\u00e7ados e presos a 100 pregos fincados em uma parede. Frases s\u00e3o coladas no barbante, e as crian\u00e7as percorrem um caminho por meio dessa \"teia\" lendo mensagens de incentivo e enfrentando dificuldades. Ao chegar na parede, as crian\u00e7as escrevem, em uma folha de papel, todas as emo\u00e7\u00f5es que sentiram no caminho. \"Mostramos que existem dificuldades e barreiras invis\u00edveis dentro da favela, da cidade e do pa\u00eds. Mas que podemos ultrapassar e levar o que quisermos para a vida\", explica Felipe.<\/p>
Outra atividade desempenhada pela Oficina \u00e9 a integra\u00e7\u00e3o das crian\u00e7as da comunidade com aparelhos culturais, como museus, teatros e cinemas. A inten\u00e7\u00e3o \u00e9 mostrar que esses ambientes tamb\u00e9m foram feitos para os jovens das favelas. \"No ano passado, levamos um grupo at\u00e9 o Centro Cultural Banco do Brasil, no centro do Rio. Um dos meninos veio me falar: 'Ser\u00e1 que v\u00e3o me deixar entrar em um lugar t\u00e3o bonito?'. Eu disse que, sim, ele pode e deve entrar. Nosso desafio \u00e9 derrubar esses muros invis\u00edveis que criaram para n\u00f3s\", recorda.<\/p>
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Em 2017, Felipe deu in\u00edcio a um novo desafio: o projeto Me Segue, no qual jovens volunt\u00e1rios desenvolvem a colideran\u00e7a e estabelecem a\u00e7\u00f5es culturais para a comunidade. Com dez integrantes, o Me Segue j\u00e1 acumula vit\u00f3rias revitalizando \u00e1reas anteriormente degradadas e desprezadas pelos pr\u00f3prios moradores.<\/p>
O maior motivo de orgulho para Felipe \u00e9 a pra\u00e7a, pr\u00f3xima \u00e0 sede da ONG. Localizada na favela da Quitanda, dentro do complexo da Pedreira, ela foi completamente recuperada por conta do projeto. \"Entrevistamos os moradores e entendemos o que eles queriam. A partir da\u00ed, organizamos um mutir\u00e3o e limpamos tudo. E come\u00e7amos a ocupar o espa\u00e7o fazendo um cineclube e campeonatos de ping-pong e pula-pula. O espa\u00e7o ocupado se torna seguro e frequentado sem medo pelos moradores\", relata..<\/p>
Hoje a pra\u00e7a conta tamb\u00e9m com um campo de futebol em \u00f3timo estado e recebe os cuidados da Prefeitura. No momento em que a entrevista era realizada, uma equipe realizava o corte de grama no local. \"N\u00f3s cobramos para valer. Nem que seja para dar dezenas de telefonemas para o 1746 (telefone de reclama\u00e7\u00f5es da Prefeitura do Rio)\", afirma.<\/p>
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Costa Barros, bairro onde Felipe mora, fica em pen\u00faltimo lugar no ranking de IDH (\u00cdndice de Desenvolvimento Humano) dentre os bairros do Rio de Janeiro. Em meio \u00e0 guerra de fac\u00e7\u00f5es que dominam as duas comunidades (uma controla o Complexo da Pedreira, outra, a favela do Chapad\u00e3o), as iniciativas lideradas por ele se desenrolam em um cen\u00e1rio de extrema tens\u00e3o.<\/p>
Felipe considera a possibilidade de conflito no planejamento de qualquer atividade: \"N\u00e3o posso negar que vivemos tensos, porque, a qualquer momento, pode come\u00e7ar uma guerra de traficantes ou a pol\u00edcia pode entrar aqui. Qualquer a\u00e7\u00e3o que organizamos prev\u00ea a possibilidade de termos um conflito. Sempre enviamos of\u00edcios ao batalh\u00e3o da PM para informar que teremos crian\u00e7as nas ruas\".<\/p>
Apesar do clima de apreens\u00e3o, Felipe consegue transitar bem por todos os grupos e, para isso, prima pela neutralidade. Em todos os projetos, faz quest\u00e3o de cadastrar o mesmo n\u00famero de crian\u00e7as de cada lado e afirma ser respeitado: \"Eles entendem nossas a\u00e7\u00f5es e sabem que procuramos ajudar muitos jovens para que esses encontrem um outro caminho. Afinal, somos do mesmo local, fomos criados juntos, jogando bola e soltando pipa\".<\/p>
Por conta de seu trabalho na comunidade, Felipe constantemente \u00e9 procurado por jovens que buscam mudar de vida. Um dos motivos de orgulho \u00e9 ajudar na realoca\u00e7\u00e3o deles no mercado de trabalho. Certa vez, um amigo o procurou desesperado. Tinha 16 anos, havia se envolvido numa tentativa de roubo e ficou detido por alguns meses: \"Eu e o Ant\u00f4nio fomos pessoalmente pedir emprego para ele. At\u00e9 que conseguimos em um comerciante, que, em um primeiro momento, ficou com receio. Eu disse: 'Eu daria a minha vida por esse garoto' e acabei convencendo. At\u00e9 hoje ele trabalha l\u00e1. \u00c9 um funcion\u00e1rio da maior confian\u00e7a, quem abre e fecha a loja\".<\/p>
Outros jovens j\u00e1 foram encaminhados para projetos de capacita\u00e7\u00e3o profissional, como cursos de inform\u00e1tica promovidos pela Recode, ONG especializada na forma\u00e7\u00e3o de jovens para a \u00e1rea digital. Por interm\u00e9dio de Felipe, a Recode doou computadores para um laborat\u00f3rio de inform\u00e1tica na Vis\u00e3o Reformar. Esse \u00e9 um dos projetos a serem implementados futuramente.<\/p>
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Como ser\u00e1 o amanh\u00e3?<\/p>
Desde maio, Felipe Rocha \u00e9 um jovem transformador da Ashoka, uma das maiores redes de empreendedorismo social do mundo. Por causa disso, tem conseguido contatos para implementar novos projetos na comunidade. As dificuldades financeiras limitaram o raio de a\u00e7\u00e3o da Oficina Brincarte e, para 2020, Felipe j\u00e1 prepara um novo projeto da iniciativa com a assessoria da Ashoka.<\/p>
Para o futuro, Felipe se v\u00ea cada vez mais integrado ao empreendedorismo social e pretende atuar profissionalmente de olho em uma sociedade mais justa. \"Meu sonho \u00e9 ter o diploma de publicit\u00e1rio. Mas nunca deixarei de gerar valor para as pessoas. Quero transformar muitas vidas e mudar meu mundo por meio de minhas atitudes\", afirma.<\/p>
Fotos: Marcelo de Jesus|UOL<\/pre>","indexed":"1","path":[297,262],"photo-thumb":null,"sdescr":"Em uma das comunidades mais pobres do Rio, Felipe Rocha mostra um novo caminho para crian\u00e7as e jovens...","tags":[],"extracats":[],"request":"public","redir":null,"type":"showroom"},w.pageload_additional=[],w.cg_webpartners_dl=!0,w.cg_holiday=0;})(window,top)Utilizamos cookies para fins analíticos e funcionais visando melhorar sua experiência com nosso website.WebParceria
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Anderson Baltar de ECOA - entrevista com Felipe Rocha
Muros invisíveis
Em uma região muito pobre da cidade do Rio de Janeiro, na qual a guerra entre traficantes apavora milhares de moradores, Felipe Rocha, 20, faz a diferença. Com dedicação e empatia extrema a jovens que, no lugar de acesso à cultura, recebem a influência diária do crime, ele decidiu há três anos ajudar a reduzir as barreiras que separam a rotina de quem mora na comunidade das oportunidades que a vida pode oferecer.
Com essa missão, Felipe conduz a Oficina Brincarte, projeto que já atendeu centenas de jovens do Complexo da Pedreira e da favela do Chapadão, entre Costa Barros e Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele também coordena o Me Segue, projeto que mapeia e revitaliza áreas da comunidade para atividades culturais. O idealismo e resiliência diante das adversidades são dois dos principais traços de Felipe. "Procuro mostrar que posso ser um exemplo e que existem outros caminhos na vida", afirma.
Destinado a estudar
Caçula de dez filhos, todos criados pela mãe, Ana Lúcia, Felipe teve oportunidades que a maioria de seus irmãos não puderam experimentar. Na família, é o único a cursar universidade (está no segundo período de Publicidade e Propaganda na Universidade Estácio de Sá) e desde criança foi o mais incentivado a estudar. "Apenas uma irmã chegou a cursar faculdade, mas trancou. Outros três irmãos ainda conseguiram concluir o ensino médio", disse.
Enquanto os irmãos catavam latas e recicláveis e buscavam restos de alimentos no entorno da Ceasa, no bairro do Irajá, Felipe podia se dedicar aos estudos. "Somos filhos de pais ausentes e a figura paterna que tive foi meu irmão, Bruno, que hoje tem 27 anos. Ele me mostrou que somos capazes de lutar pelo que queremos. Que somos favelados, mas temos capacidade de nos transformar. Meu irmão lutou muito e me proporcionou oportunidades que ele não teve", afirma.Criado em uma área bastante carente, Felipe teve aos oito anos de idade um encontro que mudou sua vida. Ao fazer parte de uma escolinha de futebol, entrou em um projeto da ONG Visão Restaurar e conheceu Antônio Parras, presidente da entidade. "Eu morava em uma rua que todos chamavam de Fim de Mundo, e o Antônio estava lutando para recuperar um campinho que estava abandonado. Logo comecei a participar dos projetos coordenados por ele, que se tornou, ao lado do meu irmão, uma outra referência", afirma.
Nesta época, a Oficina Brincarte dava os seus primeiros passos. Tocada por uma assistente social voluntária, a iniciativa buscava por meio de brincadeiras e gincanas despertar nas crianças a consciência sobre os desafios e problemas enfrentados na comunidade.
Ensinando a superar as dificuldades da vida
Em 2016, a responsável pela Brincarte afastou-se da ONG. E, aos 17, Felipe passou a coordenar os trabalhos. Apesar da pouca idade, a vontade de ajudar os jovens de sua comunidade falou mais alto e, com muita garra, ele mergulhou na função. "Não me dei por vencido facilmente. Quando você entra numa ONG e vê o sorriso de uma pessoa com necessidade, você se empodera cada vez mais para fazer o seu papel dentro da sociedade", afirma.
Com oito meses de duração e atividades às quartas-feiras e sábados, a oficina atende a dezenas de crianças e jovens, entre 8 e 13 anos, das comunidades da Pedreira e Chapadão. Por meio de atividades colaborativas, as dificuldades da vida são apresentadas, e as crianças são incentivadas a enfrentá-las e superá-las, com o desenvolvimento do pensamento crítico.
Uma das principais brincadeiras é a "teia de aranha", em que 300 metros de barbante são entrelaçados e presos a 100 pregos fincados em uma parede. Frases são coladas no barbante, e as crianças percorrem um caminho por meio dessa "teia" lendo mensagens de incentivo e enfrentando dificuldades. Ao chegar na parede, as crianças escrevem, em uma folha de papel, todas as emoções que sentiram no caminho. "Mostramos que existem dificuldades e barreiras invisíveis dentro da favela, da cidade e do país. Mas que podemos ultrapassar e levar o que quisermos para a vida", explica Felipe.
Outra atividade desempenhada pela Oficina é a integração das crianças da comunidade com aparelhos culturais, como museus, teatros e cinemas. A intenção é mostrar que esses ambientes também foram feitos para os jovens das favelas. "No ano passado, levamos um grupo até o Centro Cultural Banco do Brasil, no centro do Rio. Um dos meninos veio me falar: 'Será que vão me deixar entrar em um lugar tão bonito?'. Eu disse que, sim, ele pode e deve entrar. Nosso desafio é derrubar esses muros invisíveis que criaram para nós", recorda.
Revitalizando áreas da comunidade
Em 2017, Felipe deu início a um novo desafio: o projeto Me Segue, no qual jovens voluntários desenvolvem a coliderança e estabelecem ações culturais para a comunidade. Com dez integrantes, o Me Segue já acumula vitórias revitalizando áreas anteriormente degradadas e desprezadas pelos próprios moradores.
O maior motivo de orgulho para Felipe é a praça, próxima à sede da ONG. Localizada na favela da Quitanda, dentro do complexo da Pedreira, ela foi completamente recuperada por conta do projeto. "Entrevistamos os moradores e entendemos o que eles queriam. A partir daí, organizamos um mutirão e limpamos tudo. E começamos a ocupar o espaço fazendo um cineclube e campeonatos de ping-pong e pula-pula. O espaço ocupado se torna seguro e frequentado sem medo pelos moradores", relata..
Hoje a praça conta também com um campo de futebol em ótimo estado e recebe os cuidados da Prefeitura. No momento em que a entrevista era realizada, uma equipe realizava o corte de grama no local. "Nós cobramos para valer. Nem que seja para dar dezenas de telefonemas para o 1746 (telefone de reclamações da Prefeitura do Rio)", afirma.
No fio da navalha.
Costa Barros, bairro onde Felipe mora, fica em penúltimo lugar no ranking de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dentre os bairros do Rio de Janeiro. Em meio à guerra de facções que dominam as duas comunidades (uma controla o Complexo da Pedreira, outra, a favela do Chapadão), as iniciativas lideradas por ele se desenrolam em um cenário de extrema tensão.
Felipe considera a possibilidade de conflito no planejamento de qualquer atividade: "Não posso negar que vivemos tensos, porque, a qualquer momento, pode começar uma guerra de traficantes ou a polícia pode entrar aqui. Qualquer ação que organizamos prevê a possibilidade de termos um conflito. Sempre enviamos ofícios ao batalhão da PM para informar que teremos crianças nas ruas".
Apesar do clima de apreensão, Felipe consegue transitar bem por todos os grupos e, para isso, prima pela neutralidade. Em todos os projetos, faz questão de cadastrar o mesmo número de crianças de cada lado e afirma ser respeitado: "Eles entendem nossas ações e sabem que procuramos ajudar muitos jovens para que esses encontrem um outro caminho. Afinal, somos do mesmo local, fomos criados juntos, jogando bola e soltando pipa".
Mudando vidas
Por conta de seu trabalho na comunidade, Felipe constantemente é procurado por jovens que buscam mudar de vida. Um dos motivos de orgulho é ajudar na realocação deles no mercado de trabalho. Certa vez, um amigo o procurou desesperado. Tinha 16 anos, havia se envolvido numa tentativa de roubo e ficou detido por alguns meses: "Eu e o Antônio fomos pessoalmente pedir emprego para ele. Até que conseguimos em um comerciante, que, em um primeiro momento, ficou com receio. Eu disse: 'Eu daria a minha vida por esse garoto' e acabei convencendo. Até hoje ele trabalha lá. É um funcionário da maior confiança, quem abre e fecha a loja".
Outros jovens já foram encaminhados para projetos de capacitação profissional, como cursos de informática promovidos pela Recode, ONG especializada na formação de jovens para a área digital. Por intermédio de Felipe, a Recode doou computadores para um laboratório de informática na Visão Reformar. Esse é um dos projetos a serem implementados futuramente.
Como será o amanhã?
Desde maio, Felipe Rocha é um jovem transformador da Ashoka, uma das maiores redes de empreendedorismo social do mundo. Por causa disso, tem conseguido contatos para implementar novos projetos na comunidade. As dificuldades financeiras limitaram o raio de ação da Oficina Brincarte e, para 2020, Felipe já prepara um novo projeto da iniciativa com a assessoria da Ashoka.
Para o futuro, Felipe se vê cada vez mais integrado ao empreendedorismo social e pretende atuar profissionalmente de olho em uma sociedade mais justa. "Meu sonho é ter o diploma de publicitário. Mas nunca deixarei de gerar valor para as pessoas. Quero transformar muitas vidas e mudar meu mundo por meio de minhas atitudes", afirma.
Fotos: Marcelo de Jesus|UOLFonte: uol.com.br